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Sunday, March 18, 2012

Sobre o reconhecimento da Santa Sé    



























































































































































NOSSA PEQUENA HISTÓRIA DENTRO DA HISTÓRIA DA IGREJA A Igreja Católica aqui na terra é militante, porque está sempre em combate contra os inimigos de Deus e das almas, internos e externos, pecados e heresias. Tendo apenas saído das perseguições romanas dos três primeiros séculos, a Igreja teve que lutar contra as grandes heresias trinitárias e cristológicas que apareceram em seu seio.

 Mesmo no apogeu da cristandade medieval, época de grandes santos, não faltaram grandes heresias, que exigiram intensa vigilância da parte da Igreja. Como resultado da decadência dos costumes do Renascimento, decadência moral que atingiu todos os níveis do universo cristão, desde o povo simples até a mais alta hierarquia, surgiu o protestantismo - a pseudo-reforma - que fez e faz ainda grandes estragos no povo cristão, com erros principalmente sobre o sacerdócio, a Eucaristia e o sacrifício da Missa.

A verdadeira reforma foi feita pela Igreja com o Concílio de Trento e o zelo dos santos, tais como Santo Inácio e a Companhia de Jesus, São Carlos Borromeu e a fundação dos seminários, São Pio V e a codificação da Liturgia. No final do século XVIII, veio a Revolução Francesa com a proclamação dos direitos do homem independente dos direitos de Deus, com o laicismo dos Estados e as liberdades modernas, com forte perseguição à Igreja. Em conseqüência, no século XIX, predominou o liberalismo, condenado pelo Magistério da Igreja. No início do século XX, o modernismo na Igreja, resumo de todas as heresias, foi condenado por São Pio X. No campo social surgia o comunismo, fruto da filosofia marxista, destruidor da sociedade cristã e grande perseguidor da Igreja. Duas guerras mundiais serviram para maior laicização e descristianização da sociedade.

E muitos erros, já condenados pela Igreja, começaram a se reintroduzir nas fileiras católicas. O Santo Padre Pio XII renovou a condenação desses erros, em várias encíclicas, especialmente a "Humani Generis" e, no campo litúrgico, a "Mediator Dei" (1947). Em 1948, foi nomeado bispo de Campos Dom Antônio de Castro Mayer, professor, doutor em Teologia, formado pela Universidade Gregoriana de Roma, muito fiel ao Magistério da Igreja. Dom Antônio, através dos seus sermões, artigos e sobretudo brilhantes Cartas Pastorais, alertava continuamente seus padres e diocesanos contra os erros atuais, já condenados pela Igreja, que se infiltravam por toda a parte. E nesse espírito de fidelidade à Igreja Dom Antônio formava seus padres. Tendo participado do Concílio Vaticano II, de 1962 a 1965, Dom Antônio procurou dar aos padres e fiéis a legítima interpretação do "aggiornamento" desejado pelo Papa João XXIII, advertindo contra os que, aproveitando-se do Concílio, procuravam fazer reviver na Igreja o modernismo e seu conjunto de heresias, caracterizando o que foi denunciado pelo Papa Paulo VI como a "autodemolição da Igreja".

Após o Concílio, grande crise, sem precedentes, instalou-se na Igreja, com apostasias em grande escala de padres e religiosas, dessacralização da liturgia, laicização do clero, diminuição de vocações, mundanização dos seminários, ecumenismo irenista, sincretismo religioso, etc. Como disse o Papa João Paulo II: "... foram espalhadas a mãos cheias idéias contrárias à verdade revelada e sempre ensinada; propagaram-se verdadeiras heresias nos campos dogmático e moral... também a Liturgia foi violada"(Discurso no Congresso das Missões, 6/2/1981). No meio da crise geral, Dom Antônio procurou preservar a sua Diocese na verdadeira doutrina católica, formando sacerdotes e orientando os fiéis. Após o Concílio foram introduzidas algumas alterações na Liturgia da Missa, que Dom Antônio aceitou docilmente e adotou na Diocese. Mas alguns sintomas de que a reforma litúrgica não caminhava bem causavam insatisfação. O Cardeal Antonelli, membro da Comissão Pontifícia para a Reforma Litúrgica, confessa que a reforma estava sendo feita por "pessoas... avançadas nas trilhas das novidades..., sem nenhum amor e nenhuma veneração por aquilo que nos foi transmitido" (Il Card. Ferdinando Antonelli e gli sviluppi della riforma liturgica dal 1948 al 1970 - Studia Anselmiana - Roma). Em 1969, veio o Novus Ordo Missae do Papa Paulo VI, que não deixou de causar perplexidades em muitos católicos, inclusive em personalidades importantes, como alguns cardeais da Cúria Romana.

Com perplexidades semelhantes, Dom Antônio escreveu ao Papa Paulo VI, expondo sua dificuldade de consciência de aceitar a nova Missa. Eis um trecho de sua carta: "Tendo examinado atentamente o 'Novus Ordo Missae',...depois de muito rezar e refletir, julguei de meu dever, como sacerdote e como bispo, apresentar a Vossa Santidade, minha angústia de consciência, e formular, com a piedade e confiança filiais que devo ao Vigário de Jesus Cristo, uma súplica... Cumpro, assim, um imperioso dever de consciência, suplicando, humilde e respeitosamente, a Vossa Santidade, se digne... autorizar-nos a continuar no uso do 'Ordo Missae' de São Pio V, cuja eficácia na dilatação da Santa Igreja e no afervoramento de sacerdotes e fiéis, é lembrada, com tanta unção, por Vossa Santidade" (Carta de 12 de setembro de 1969). Desse modo, embora Dom Antônio não obrigasse ninguém - e houve padres que adotaram a missa nova - se conservou, oficialmente na Diocese de Campos, na grande maioria das paróquias, a Missa tradicional, dita de São Pio V, e toda a orientação tradicional do apostolado.

Em 1981, Dom Antônio foi substituído na sede episcopal de Campos. Os bispos que o sucederam não eram da mesma orientação. Tendo sido removidos das paróquias, seguidos por milhares de fiéis que desejavam a Missa e a orientação tradicional da Igreja, os "padres de Campos" se viram na necessidade de atender aos fiéis que os procuravam, e continuaram, em novas igrejas e capelas, a ministrar-lhes os sacramentos. Foi criada, assim, a União Sacerdotal São João Maria Vianney. E, sem nenhuma intenção de fazer qualquer cisma na Igreja, solicitaram aos Bispos da Fraternidade São Pio X que sagrassem um dos seus padres, Dom Licínio Rangel, para atender aos fiéis da linha tradicional. Bispo sem jurisdição, apenas com o poder de Ordem, sem intenção de fazer uma diocese paralela (1991). É claro que essa situação de emergência não poderia durar indefinidamente. Todos ansiavam para que tudo voltasse ao normal.

No Jubileu do ano 2000, os "padres de Campos" participaram da peregrinação do Ano Santo em Roma, junto com a Fraternidade São Pio X. A partir de então, o Cardeal Darío Castrillón Hoyos, prefeito da Congregação para o Clero, com a aprovação e a bênção do Santo Padre o Papa João Paulo II, começou as conversações em vista de uma regularização jurídica da situação dos assim chamados padres e fiéis da Tradição. Tendo os padres da União Sacerdotal São João Maria Vianney escrito uma carta ao Santo Padre pedindo que fossem "aceitos e reconhecidos como católicos", o Papa lhes respondeu acolhendo-os benevolamente, erigindo, no dia 18 de janeiro de 2002, a Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, com Bispo próprio e sacerdotes, com jurisdição pessoal sobre os fiéis, com o direito de ter a Missa Tradicional como rito próprio (conseguindo, portanto, a realização oficial do pedido de Dom Antônio de Castro Mayer), suspendendo todas as censuras e penas nas quais eventualmente pudessem ter incorrido, regularizando dessa maneira a sua situação jurídica dentro da Igreja Católica, reconhecendo canonicamente a sua pertença a ela e respeitando a sua realidade eclesial e suas características peculiares. 1) Houve um acordo com a Santa Sé? Se considerarmos o aspecto jurídico, quanto àquilo que nos foi concedido, podemos dizer que houve uma concessão jurídica por parte da Santa Sé. Mas, considerando em si as tratativas e conversações, não houve propriamente um acordo, mas sim um entendimento. Apesar de a palavra "acordo" ter sido usada nas tratativas anteriores com a Santa Sé, consideramo-la menos apropriada à presente circunstância. Primeiro, porque não se faz acordo com um superior, muito menos com o Papa: a ele se deve acatamento e obediência, nas normas da Igreja. Segundo, porque "acordo" supõe concessões e barganhas, o que realmente não houve. A palavra que melhor expressa o que houve é "entendimento". Na verdade, nós éramos conhecidos pela nossa parte negativa e caricatural: os "padres de Campos", "tradicionalistas", eram aqueles que absolutamente não aceitavam o Papa e não reconheciam nem o Concílio Vaticano II nem a validade do Novus Ordo Missae, a Missa de Paulo VI.

Por isso, foi necessário expor a nossa verdadeira posição, que, uma vez "entendida" como ela é, permitiu a nossa aprovação e reconhecimento como católicos, em perfeita comunhão com a Santa Igreja. Houve, pois, um "entendimento" e, com ele, uma regularização jurídica. 2) Mas o que os levou a procurar essa união com a Santa Sé? Assim respondeu Dom Licínio Rangel à revista internacional "30 Dias": "Foi o nosso amor a Roma e ao Papa, nosso senso católico, fruto da formação que recebemos de Dom Antônio de Castro Mayer, que nos levou a sempre desejar a união com a Hierarquia da Santa Igreja. Sempre tivemos consciência de que a nossa posição de resistência pró Tradição, e conseqüente situação de exceção, deveria ser circunstancial, temporária e restrita a assuntos precisos, originários de pontos agudos da crise, resistência justificada pelo estado de necessidade das almas, sem nenhuma intenção de cisma. Prova disso é que, após a morte de Dom Antônio de Castro Mayer, quando há dez anos recebi o episcopado, de emergência e de suplência para os fiéis da linha tradicional, declarei que esperava que as circunstâncias haveriam de mudar e então eu entregaria ao Papa o meu episcopado para que ele dispusesse como ele desejasse.

Nada, portanto, de ruptura com a Igreja. Assim sempre ansiamos por uma regularização e reconhecimento. A oportunidade apareceu após a nossa peregrinação a Roma pelo Jubileu do ano 2000, quando o Santo Padre nomeou o Cardeal Darío Castrillón Hóyos para, em seu nome, iniciar as conversações em vista de nossa regularização. As conversações aconteceram durante todo o ano 2001 e, graças a Deus, chegaram a um bom termo, com nosso pleno reconhecimento canônico no seio da Santa Igreja”. 3) Por que havia necessidade de um reconhecimento? Porque o católico deve estar unido à hierarquia da Igreja. Aliás, é um dogma da Fé católica: "Declaramos, dizemos e definimos ser totalmente necessário à salvação que todos os homens se submetam ao Romano Pontífice" (Bonifácio VIII, Bula Unam Sanctam, Dz-Sh 875). E o Magistério da Igreja (Leão XIII - encíclica Satis Cognitum) nos ensina que a unidade de regime ou de governo é tão necessária quanto a unidade de Fé. Portanto, estar separado da hierarquia, mesmo materialmente falando, e mesmo por uma questão de necessidade, é algo anormal, temporário, que precisa ter fim. Assim era o pensamento de Dom Marcel Lefebvre, quando, nas conversações travadas com a Santa Sé em 1988, escrevia ao Cardeal Ratzinger: "Tendo podido acompanhar os trabalhos da Comissão encarregada de preparar uma solução aceitável para o problema que nos preocupa, parece que, com a graça de Deus, nós nos encaminhamos para um acordo, do que ficamos muito felizes" (carta de 15/4/1988 - cf. Fideliter - le dossier complet). Portanto, sentir-se satisfeito com a separação, ficar contente e tranqüilo com a anormalidade, não ficar preocupado com o problema, não querer de modo algum chegar a um entendimento, rejeitar a priori toda tentativa de acordo, não é um bom espírito nem um sentimento católico, do qual nos dá exemplo Dom Marcel Lefebvre. 4) Mas havia algum perigo de cisma nesse estado de separação? Sim, realmente havia e há. Foi o que os padres da União Sacerdotal de Campos, com Dom Licínio, após muita reflexão, em 5 de junho de 2001, escreveram oficialmente a Dom Bernard Fellay, apresentando-lhe 28 sérias razões sobre a necessidade do reconhecimento, alertando-o do perigo de se continuar nesse estado anormal de separação: "Considerando... que a situação atual de separação dos católicos da Tradição com relação à hierarquia, provocada pela crise da Igreja, além de anormal, deve ser ocasional e temporária, portanto exigindo de nós um anseio pela regularização e união, e não um contentamento com a situação; que os efeitos negativos dessa separação anormal já se fazem sentir nos meios tradicionalistas, provocando um espírito de crítica generalizado e sistemático, um espírito de independência, contentamento com a anormalidade da situação e um sentimento de detenção pessoal da exclusividade da verdade; o perigo de que essa separação, com o passar do tempo, embora não signifique uma adesão a nenhum cisma teórico, possa levar a um espírito de cisma, dada a ausência de unidade de regime...".

(Infelizmente, esta carta não obteve resposta). Os exemplos que conhecemos desse espírito nos meios tradicionalistas têm nos levado a refletir sobre o perigo dessa separação habitual e sistemática: os radicais acabam se tornando sedevacantistas, cismáticos ou até apóstatas. Santo Tomás de Aquino diz: "São chamados cismáticos aqueles que se recusam se submeter ao Sumo Pontífice e aqueles que se recusam a viver em comunhão com os membros da Igreja, a ele sujeitos" (2a-2ae, q. 39, art. 1). O célebre teólogo espanhol Francisco Suarez ensina que há vários modos de se tornar cismático: "sem negar que o Papa é o chefe da Igreja, o que já seria heresia, age-se como se ele não o fosse: é o modo mais freqüente..." (De Charitate, disp. 12, sect. I, n.2, t. XII, p. 733, in Opera Omnia). E, como escreveu o Pe. Ugo Carandino, ex-prior de Rimini, da Fraternidade São Pio X, respondendo porque a Fraternidade procurava a reconciliação com Roma: "... Uma ajuda para responder a este quesito vem do Pe. Michel Simoulin (superior do Distrito da Itália, da Fraternidade São Pio X), que nos últimos meses tem muitas vezes dito e escrito que um acordo com João Paulo II se torna necessário para evitar que a Fraternidade se torne uma igreja cismática separada de Roma, uma "petite eglise", uma pequena igreja". 5) Mas nunca tivemos a intenção de ser cismáticos. Estamos advertindo contra o espírito cismático.

Ademais, o Dicionário de Teologia Católica (verbete shisme col. 1303) dá três espécies de cisma: o direto, quando a vontade se dirige à recusa formal da unidade; o indireto, quando a vontade se dirige, não para a recusa da comunhão, mas para algo que envolve a ruptura de comunhão; e enfim, o cisma contra a vontade, menos imaginário do que se pensa, quando alguém não se quer separar da unidade mas faz coisas tais ou de tal maneira e que se obstina em fazê-las de tal modo que a ruptura da unidade se segue fatalmente; caso típico é o de Döllinger, que sempre protestou sua vontade de permanecer na unidade, e jamais quis aceitar a etiqueta de "velho católico", e no entanto foi cismático, como a sua pequena igreja dos "velhos católicos". 6) Mas onde estava realmente a irregularidade da situação? A principal irregularidade estava na Sagração de um Bispo, e sua conservação, contra a vontade do Papa. Portanto, na primeira oportunidade possível, era preciso sair dessa situação irregular, pois havia grave perigo de se passar de um estado de mera separação para um cisma real. Como disse o Papa Pio XII, na Encíclica "Ad Apostolorum Principis": "Nenhuma autoridade que não seja a do Pastor Supremo... nenhuma pessoa ou assembléia de padres ou de leigos, pode se arrogar o direito de nomear bispos. Ninguém pode conferir legitimamente a sagração episcopal sem a certeza do mandato pontifício. Uma sagração assim conferida contra o direito divino e humano e que é um gravíssimo atentado à unidade mesmo da Igreja é punida de uma excomunhão..."

Ademais, com o passar do tempo, começam a aparecer casos em que é necessário o "poder das chaves", que um bispo sem jurisdição não tem, por exemplo, a declaração de nulidade de casamentos, a secularização de diáconos, a dispensa de votos públicos, etc. Arrogar-se tais poderes configuraria uma substituição da hierarquia, formando uma igreja paralela, o que realmente seria um cisma. 7) Mas vocês não temem o futuro? Assim, Dom Licínio e os padres de Campos escreveram a Dom Fellay na carta citada de 21 de junho de 2001, como uma das 28 razões para se aceitar a proposta da Santa Sé: "que não se pode recusar uma determinação de Roma, no caso uma legalização jurídica, inserindo-nos na unidade hierárquica, apenas por medo do futuro ou por estrategia..." 8) Mas não basta estarmos unidos à Igreja pela Fé e pela sã doutrina? Não, porque a Igreja Católica não é uma sociedade espiritual invisível, uma reunião de fieis que têm a verdadeira Fé. Isso seria um conceito protestante de Igreja, condenado pelo Magistério da Igreja (cf. Hervé, Manuale Theologiae Dogmaticae, de Ecclesia Christi, n. 332).

A Teologia Católica ensina que a Igreja é visível enquanto sociedade hierárquica, com unidade de Fé e de Governo. "A visibilidade da Igreja consiste na sua organização externa, manifesta a todos os olhares, à qual organização devem pertencer todos os fiéis pelo vínculo visível da mesma fé, externamente professada, pelo vínculo da mesma obediência comum a uma autoridade visível e pelo vínculo da participação dos mesmos sacramentos instituídos por Cristo eis o elemento visível da Igreja" (Dicionário de Teologia Católica - D.T.C., v. Église. Col 2144).

Eis o que ensina o Papa Pio XII: "Estão, pois, em erro perigoso aqueles que julgam poder unir-se a Cristo Cabeça da Igreja, sem aderirem fielmente ao seu Vigário na terra. Suprimida a Cabeça visível e quebrados os vínculos visíveis da unidade, obscurecem e deformam de tal manteira o Corpo místico do Redentor, que não pode ser visto nem encontrado por quantos demandam o porto da eterna salvação" (Encíclica Mystici Corporis, n. 36). O Concílio Vaticano I definiu que o Papa é o "perpétuo princípio e fundamento visível da unidade da Igreja" (Denz-Scho 3051), anatematizando quem dissesse que São Pedro não teria perpétuos sucessores no primado sobre toda a Igreja (Denz-Sho 3058). Repetindo sempre essa doutrina, Dom Antônio de Castro Mayer ensinava: "O Papa é o chefe da Igreja e, como tal, o sinal e a causa da unidade visível da sociedade sobrenatural, internamente dirigida e vivificada pelo Espírito Santo"( Instrução Pastoral sobre a Igreja, 2/3/1965, cap. II). 9) Mas não dissemos sempre que estávamos unidos ao Papa? Sim, por isso, por uma questão de lógica, era preciso pôr em prática o que se admitia na teoria. Era preciso adotar nas ações o que defendíamos nos princípios. Se não, começava-se a verificar um sedevacantismo prático, um cisma prático, quer dizer, embora se diga que se aceita o Papa, se reconhece sua autoridade etc, na prática era diferente. Isso era preciso mudar. É necessário ter coerência.

Como já citamos acima, o célebre teólogo espanhol Francisco Suarez ensina que há vários modos de se tornar cismático: "sem negar que o Papa é o chefe da Igreja, o que já seria heresia, age-se como se ele não o fosse: é o modo mais freqüente..." (De Charitate, disp. 12, sect. I, n.2, t. XII, p. 733, in Opera Omnia). E essa questão de lógica tem preocupado alguns padres da Fraternidade São Pio X. Assim, por exemplo, escreveu o citado Pe. Ugo Carandino, ex-prior de Rímini, da Fraternidade São Pio X, em carta aos fiéis (10/7/2001):
"Eis o coração do problema: efetivamente a Fraternidade se encontra num beco sem saída, porque continua a querer reconhecer João Paulo II como autoridade legítima da Igreja. Ora, se realmente João Paulo II é verdadeira autoridade, então se apresentam somente duas posições possíveis: - ou procurar um acordo com esta "autoridade" ...  (a própria terminologia de procurar "um acordo com o Papa" revela um absurdo: o católico deve se submeter ao Vigário de Cristo e não "fazer acordo"); - ou então separar-se completamente desta "autoridade" constituindo uma "pequena igreja" realmente cismática, onde se desobedece habitualmente àquele que se reconhece como Papa, para obedecer unicamente aos superiores da Fraternidade, aos quais se atribui uma espécie de "infalibilidade" que se nega ao invés ao pretenso (sic) Papa. É esta segunda solução que se tem consolidado nos últimos anos ( e que aflora nesta fase de rompimento das tratativas)...".

Por uma questão de lógica, o Pe. Ugo Carandino abandonou a Fraternidade e adotou o sedevacantismo. O mesmo escreveu o Pe. Basílio Méramo, prior atual do Priorato da Colômbia, da Fraternidade São Pio X, em carta aos Padres de Campos: "Como é possível que se deva desobedecer a um Papa de modo habitual e constante para permanecer fiéis à Igreja, ao Papado e a Roma, e para conservar a Fé Católica, quando na realidade o Papa legítimo é o que deveria confirmar os seus irmãos na Fé e por isso justamente tem a prerrogativa da infalibilidade como Romano Pontífice? É absurdo, estulto e ilógico não ver a grande contradição que há, sobretudo hoje em dia e à altura em que chegaram os acontecimentos. Como é possível que se deva desobedecer ao Papa para permanecer fiéis a Cristo e à Santa Madre Igreja, quando precisamente é o Papa que por seu ofício deve confirmar-nos na Fé? Logo, se se olha bem, a única explicação que teologicamente cabe ... é a de um Papa ilegítimo, a de um Antipapa..." (Carta de 2 de maio de 2002). Vê-se claramente que uma desobediência habitual e constante, um sedevacantismo prático, acaba, pela lógica, levando ao sedevacantismo teórico, que, por sua vez, acaba levando ao cisma. É a realização da frase de Santo Agostinho: "Quem vive de modo contrário ao que pensa, vai acabar pensando do modo como vive". E todos acabam sendo levados à conclusão de que a Igreja Católica desapareceu e as portas do inferno prevaleceram contra ela, o que é uma heresia. Pois se, segundo eles, a Igreja está sem papa há 30 ou 40 anos, todos os cardeais e bispos atuais são falsos. Quem elegerá o novo papa? Assim a Igreja teria realmente desaparecido.
Por isso, repetimos mais uma vez com Dom Marcel Lefebvre: " Cuidado, cuidado, cuidado!... Não nos metamos em um círculo infernal do qual não saberemos como sair. Nesta atitude existe um verdadeiro perigo de cisma..." 10) Mas o Papa é tão necessário assim à Igreja? Já explicamos acima na resposta ao n. 8. Dom Marcel Lefebvre dizia que há "três grandes realidades da Igreja Católica, três pessoas pelas quais Deus se manifesta: Jesus Eucaristia, Maria e o Papa". (Ecône, maio de 1965).

Dom Antônio de Castro Mayer, na célebre carta pastoral sobre problemas do apostolado moderno, nas diretrizes aos padres, escrevia: "Não percam ocasião de inculcar verdadeira devoção ao Santo Padre o Papa". Advertindo sobre a grave situação doutrinária e pastoral em que se encontra a Fraternidade São Pio X, o citado Padre Ugo Carandino, na mesma carta aos fiéis de 10/7/2001, escreve: "...A Fraternidade continua a ensinar, a propósito do Papado, uma nova doutrina que se afasta da doutrina católica e que, inevitavelmente, prepara uma mentalidade de "pequena igreja"...Segundo este ensinamento, o fiel pode desobedecer habitualmente a este "Papa" (sic), que não é mais a regra próxima da Fé, mas um elemento quase secundário da Igreja: ao passo que a sã doutrina ensina que um católico não pode prescindir do ensinamento e do governo do Papa.

Nesta nova doutrina se encontra o velho erro galicano, já condenado pela Igreja, que determina, sobretudo nas novas gerações, um conceito gravemente deformado da Igreja e do Papado. Chega-se ao paradoxo de refutar uma heresia, a modernista, em nome de uma outra heresia, a galicana, ao invés de abraçar integralmente a Fé católica... Julgo que os acontecimentos ligados aos acordos evidenciaram o beco sem saída no qual se encontra a Fraternidade. De fato, a minoria do clero da Fraternidade que abertamente se expressou de modo negativo a uma possibilidade de reconciliação com João Paulo II, o fez partindo de uma posição tendenciosamente galicana. Não por acaso, um dos mais ativos defensores da linha 'anti-acordo', foi Dom Tissier de Mallerais, que se ocupa como primeira pessoa dos tribunais eclesiásticos criados pela Fraternidade em substituição das sentenças da Sacra Rota Romana, um dos aspectos mais evidentes da práxis da 'pequena igreja', já consolidada no interior da Fraternidade ( estes tribunais têm emitido sentenças de anulação de matrimônios, redução de diáconos ao estado leigo, dissolução de votos religiosos definitivos). O exemplo das igrejas dissidentes orientais ensina que não é suficiente conservar a Missa, os Sacramentos e o catecismo, mas é indispensável ser fiel à instituição do Papado e portanto, na atual situação da Igreja, esclarecer a questão fundamental da autoridade para exercitar de maneira legítima o ministério sacerdotal".

O Padre Carandino abandonou a Fraternidade, por não concordar com a sua falta de lógica, defendendo uma posição teórica e praticando outra, mas, infelizmente, ele caiu em outro extremo, o do sedevacantismo, que ele achou mais lógico com a prática que a Fraternidade

adota. Tudo isso confirma o que acima explicamos no n. 9. (Obs.: Citamos o Padre Ugo Carandino, não por concordarmos com a sua posição sedevacantista, mas por ser alguém que conhece bem e por dentro a Fraternidade, já que foi Prior de um Priorato da Fraternidade por 11 anos, até o ano de 2001. Pe. Carandino conhece melhor a Fraternidade do que o Pe. Cottier e outros citados conhecem o caso de Campos). 11) "Campos caiu ...nas garras da Roma neo-modernista... afundou nas águas da apostasia" (Dom Richard Williamson, bispo da Fraternidade São Pio X, em carta pública aos amigos e benfeitores).

O que significa essa afirmação? Que os padres de Campos caíram, porque, embora conservando a Santa Missa e toda a Liturgia Tridentina, a orientação tradicional, o Seminário e as paróquias tradicionais conforme a Tradição da Igreja, foram aprovados e reconhecidos por Roma? Estar unido à hierarquia da Igreja Católica é cair na apostasia? Então essa frase significa que toda a Igreja caiu na apostasia. Que as portas do Inferno prevaleceram contra a Igreja. Que Nosso Senhor Jesus Cristo falh ou na sua promessa. (ver resposta ao n.19). É uma frase de forte sabor herético e cismático.

Mas o reverso do dilema então se impõe: Se Campos não caiu, então são os acusadores que cairam. Ou estão em grave perigo de cair. "Quem está de pé, veja que não caia" (São Paulo, Apóstolo). Reflitamos: Santo Tomás de Aquino diz: "São chamados cismáticos aqueles que se recusam se submeter ao Sumo Pontífice e aqueles que se recusam a viver em comunhão com os membros da Igreja, a ele sujeitos" (2a-2ae, q. 39, art. 1). Ora, se os oponentes se recusam a se comunicar conosco, mesmo conservando nós a Missa tradicional e toda a orientação da Tradição católica, pelo simples fato de termos sido reconhecidos pelo Santo Padre, enquadram-se no segundo membro dessa frase de Santo Tomás. 12) Mas "Roma ainda não se converteu". Não devemos esperar por isso antes de fazer qualquer acordo? Ser reconhecido como católico e estar unido à hierarquia católica é uma necessidade teológica, como explicamos nas respostas anteriores.

Por isso Dom Marcel Lefebvre procurou o entendimento com a Santa Sé, em 1988, dois anos após o "encontro de Assis", um ano após o "encontro de Kyoto" e um ano após a resposta às suas "dubia". Não tinha ocorrido nenhuma "conversão" das autoridades na ocasião, como dizem os objetantes. E, apesar disso, Dom Lefebvre, preocupado com o problema, procurava um acordo, e se dizia feliz com ele se realizar. Ademais, o próprio Dom Fellay, disse que levará muito tempo para Roma abandonar os erros advindos do Concílio, provavelmente decênios, mas que cada etapa possui sua importância e agora parece se delinear uma dessas etapas (Fideliter, n. 140 pag. 7). 13) Mas "os Romanos continuam sendo lobos, raposas e tubarões" (Dom Williamson)! Interessante, conforme afirma o Dicionário de Teologia Católica (lugar citado), que os cismáticos ortodoxos, quando se separaram da Igreja Católica Romana e caíram no cisma, diziam querer afastar momentaneamente "o lobo papista do rebanho ortodoxo". E "romanos" era e é a expressão depreciativa com a qual os protestantes chamam os católicos.

O Cardeal Dom Darío Castrillón Hoyos advertiu em carta a Dom Fellay: "Nenhum herege e cismático, em toda a história, declarou estar enganado. Sempre pensaram que era a Igreja que se enganava". 14) Mas nós não temos nada de protestantismo. Combatemos a protestantização da Igreja. Mas é bom lembrar que a principal doutrina do protestantismo é a do livre exame: ligação direta com Deus, dispensando o Magistério vivo da Igreja. E o caminho geralmente acaba sendo esse: independência do Magistério vivo, apelando para o Magistério morto, juízes no lugar do Magistério e, enfim, juízes do Magistério. A Igreja, ao invés, nos ensina: "O Salvador não confiou o que está contido no depósito da Fé a juízos privados mas ao Magistério Eclesiástico" (Carta do Santo Ofício ao Arcebispo de Boston, 8/8/949, Papa Pio XII, Denz-Sho 3866). 15)

Não usamos nós o magistério escrito dos papas passados? E essa expressão "Magistério vivo" não é modernista, contrária à Tradição? Não. É uma expressão perfeitamente tradicional. Assim disse o Papa Leão XIII, na Encíclica Satis Cognitum: "É pois evidente, conforme tudo o que acaba de ser dito, que Jesus Cristo instituiu na Igreja um magistério vivo, autêntico e, além disso, perpétuo, que Ele investiu de sua própria autoridade, revestiu do espírito de verdade, confirmou por milagres e quis e severíssimamente ordenou que os ensinamentos doutrinais desse magistério fossem recebidos como sendo seus próprios". Magistério vivo e perpétuo é o que se exerce efetivamente em cada época.
É assim que explicam os teólogos: "Um magistério vivo, quer dizer, que ele se exerce continuamente na Igreja pela comunicação da doutrina revelada. Esse magistério é vivo enquanto se opõe ao magistério ainda exercido atualmente na Igreja por homens que desapareceram, mas aos quais suas obras sobreviveram. Os protestantes admitem bem que o magistério dos Apóstolos se exerce ainda atualmente na Igreja, mas somente por influência de seus escritos; eles só admitem pois um magistério por assim dizer póstumo" (Dicionário apologégico da Fé Católica, artigo Tradição e Magistério, de H. Pérennès, col. 1786-1787). "(Magistério) vivo, quer dizer, que permanece sempre em mestres vivos e se exprime pela sua boca, e não esse Magistério, divino sem dúvida mas morto, que os protestantes procuram na Escritura" (A Regra da Fé, tomo I, ªª Goupil S.J., pag. 20). "Divide-se habitualmente o magistério em escrito e vivo. O magistério puramente escrito é aquele que um autor qualquer exerce por seus livros, mesmo após a sua morte. Tal é, por exemplo, o magistério que hoje ainda Aristóteles exerce por suas obras.

O magistério é chamado vivo quando ele se exerce por atos vitais e conscientes de homens, utilize ou não o mestre de escritos" (Sacrae Theologiae Summa, B. A. C., tomo I, pag. 656, De Ecclesia Christi, por Salaverri S.J.). E eis o que adverte solenemente o Papa Pio IX, na carta Inter Gravissimas, de 28 de outubro de 1870: "Como todos os fautores de heresia e de cisma, eles se vangloriam falsamente de ter conservado a antiga fé católica, enquanto destroem o próprio principal fundamento da fé e da doutrina católica.

Eles reconhecem bem na Escritura e na Tradição a fonte da Revelação divina; mas eles recusam escutar o MAGISTÉRIO SEMPRE VIVO DA IGREJA, que provém claramente da Escritura e da Tradição e foi instituído por Deus como um guardião perpétuo da exposição e da explicação infalíveis dos dogmas transmitidos por essas duas fontes". E o citado Dicionário de Teologia Católica (ibidem) diz que a fonte da atitude perpetuamente polêmica da Igreja cismática ortodoxa está numa concepção estática do magistério eclesiástico, o culto do status quo em todos os domínios. 16) Mas esse reconhecimento foi feito não pela Roma eterna mas sim pela Roma modernista! Devemos nos recordar do espírito (ad mentem) da condenação dos Fraticelli e da sua errônea teoria das duas igrejas (Denz-Scho 911) condenada como herética e insana (Denz-Scho 916). Cuidado com confusões, das quais não se saberá sair: Nossas conversações foram com a Sagrada Congregação para o Clero, na pessoa do Cardeal Castrillón, e com o Papa João Paulo II.

Acusam-nos de termos tratado com a Roma modernista e dela ter obtido o reconhecimento. Mas com qual Roma os tradicionalistas de todo o mundo tratam? Qual Roma a Fraternidade São Pio X e toda a Tradição visitou no ano jubilar, após ter obtido licença da Comissão do Jubileu para rezar nas Basílicas romanas? 17) Acontece que hoje toda a hierarquia está na heresia e não se pode fazer acordo com hereges! Eis o que ensinava São Roberto Belarmino: "Se todos os Bispos errassem, toda a Igreja erraria, pois o povo é obrigado a seguir os seus Pastores, como disse Jesus em S. Lucas 10,16: 'Quem vos ouve, a mim ouve' e São Mateus 23,3: 'Fazei tudo quanto vos disserem." (Liber III Cap XIV De Ecclesia Militante).

O mesmo ensinava o nosso caríssimo Bispo Dom Antônio de Castro Mayer: " Caso toda a hierarquia viesse a falhar, seria a palavra de Jesus Cristo que teria falhado, pois o Divino Salvador confiou à hierarquia o governo e a direção de sua Igreja até o fim dos séculos e, mais, sua assistência para que ela não falhasse" (Monitor Campista, 26/1/1986). E Dom Antônio dizia mais: "É subversão herética, por desconfiança da hierarquia, seguir habitualmente alguém, não membro da hierarquia, como porta-voz e árbitro da ortodoxia". 18) Mas as paróquias da Administração Apostólica não ficarão misturadas com as da Diocese? O próprio Dom Marcel Lefebvre aceitava esse tipo de solução: ''E possivel que um dia os bispos conscientes de seu cargo acabem por dizer: 'Está bem, esta paróquia fica reconhecida de agora em diante'; mesmo, talvez, numa situação um pouco híbrida, eu diria, no sentido de que eles diriam: 'as paróquias atuais continuam no que elas têm feito até hoje, mas nós reconhecemos esta paróquia pessoal para todas as pessoas que queiram ir lá e frequentar e ir aos sacerdotes, nós os reconhecemos também'. Isto seria talvez uma solução... eu diria... uma etapa, talvez, eu não conheço o futuro... Mas é possível. Em todo caso, é preciso estar nessas disposições e não numa disposição de ruptura nem numa disposição de oposição por oposição, de oposição à Igreja, por nada desse mundo." (Dom Marcel Lefebvre - Econe, 3/3/1977- Conf. DICI n. 7, 11/5/2201 - pag. 17). 19)

Mas essa solução dada por Roma de uma Administração Apostólica "foi concebida de maneira diabólica como uma espécie de reserva de índios" (Pe. De Tanoüarn, Fraternidade São Pio X), pois os fiéis da Tradição ficaram circunscritos e presos a uma diocese, como "uma reserva de índios" (Pe. Knitel, superior do Distrito do México, Fraternidade S. Pio X)! A essas críticas temos a resposta do próprio superior da Fraternidade São Pio X. Sobre a proposta da Administração Apostólica, Dom Fellay comentou: "Esta é uma proposta extraordinária, e se Roma quiser uma verdadeira reforma, esse é o caminho que seria preciso tomar..." (entrevista ao Pacte, n. 56, eté 2001 - Cf. DICI n. 16 - 13/7/2001). E em entrevista à revista "30 Dias", à pergunta :"Então, o que o Vaticano poderia fazer, concretamente, para reatar as relações com vocês?", Dom Fellay respondeu : "Nas passagens práticas, sobre como fazer para resolver os problemas, a sabedoria e a habilidade de Roma são grandíssimas. Portanto pode encontrar as fórmulas adequadas". Interessante que Dom Antônio sempre foi elogiado por toda a Tradição mundial como tendo sido um Bispo extraordinário já que conservou na sua diocese a Missa tradicional.

Ninguém o acusava de ter mantido uma reserva de índios! Agora que conseguimos uma Administração Apostólica com a Missa tradicional oficialmente concedida de direito, nos tornamos uma reserva de índios?! Ou será que se quer criticar a própria organização da Igreja católica em dioceses? Ademais, a Administração foi criada na Diocese de Campos, por ser o lugar, no Brasil, onde há a maior concentração de católicos ligados à liturgia tradicional. Mas nada impede que a Administração Apostólica atenda a fiéis de outros lugares e dioceses, segundo as normas do Direito Canônico. E as inscrições na Administração Apostólica são abertas. Qualquer pessoa, que se identifica com a sua orientação tradicional e deseja a Missa dita de São Pio V, pode se inscrever na Administração Apostólica, agora e depois. Basta querer. 20)

Mas os senhores reconheceram que antes estavam fora da Igreja e que agora entraram, formando a "unidade na diversidade"? Na nossa carta ao Papa nós escrevemos: "Beatíssimo Padre, embora sempre nos tenhamos considerado dentro da Igreja Católica, da qual nunca jamais tivemos a intenção de nos separar, contudo, devido à situação da Igreja e a problemas que afetaram os católicos da linha tradicional, ...fomos considerados, juridicamente à margem da Igreja. É esse o nosso pedido: que sejamos aceitos e reconhecidos como católicos". Também Dom Lefebvre pedia até que lhe deixassem a tradição entre as muitas "experiências" atuais: "O Papa João Paulo II..., por ocasião da audiência que me concedeu em novembro de 1979, parecia bastante disposto, após uma conversação prolongada, a deixar a liberdade de escolha na liturgia, a deixar-me fazer, no final de contas, o que eu solicito desde o começo: entre todas as experiências que são efetuadas na Igreja, 'a experiência da tradição'" (Dom Marcel Lefebvre, 1984, in Carta aberta aos católicos perplexos, XX).

Isso não quer dizer que Dom Lefebvre concordasse com todas as "experiências que são efetuadas na Igreja". 21) Mas os senhores não conseguiram tudo. Não conseguiram, por exemplo, a permissão para a Missa tradicional para todos os padres do mundo! Nós realmente pedimos, junto com a Fraternidade São Pio X, a concessão da Missa para todos os sacerdotes do mundo. O Papa respondeu que por enquanto não seria possível. Nós fizemos a nossa obrigação e a nossa parte com relação a toda a Igreja. Mas a concessão não era da nossa alçada e estava fora das nossas possibilidades. Cada um cumpra o seu dever. Mas foi-nos concedida a Administração Apostólica, com o direito de celebrarmos a Missa tradicional. E a podemos dizer em qualquer parte do mundo. E qualquer padre do mundo pode dizer a Missa tradicional em nossas igrejas, bastando a nossa permissão. E qualquer padre do mundo pode dizer a missa tradicional em qualquer parte se para tanto pedir licença à Santa Sé. Aliás, Dom Lefebvre quando nas tratativas do acordo de 1988, apenas sugeriu à Santa Sé a liberação da Missa tradicional para o mundo todo. Assim escreveu ele: "Nesta ocasião (do acordo), não seria desejável que fosse concedida a todos os Bispos e padres a possibilidade de utilizar os Livros litúrgicos de João XXIII?" (carta de 15/4/1988) (Fideliter, le dossier complet). Linguagem diferente da "condição sine qua non" exigida para qualquer prosseguimento das conversações. 22) Mas o reconhecimento, por causa dos perigos, tem o seu lado negativo. Não devemos ficar olhando, como pessimistas, só o lado negativo das coisas. Dizia São Francisco de Sales: "Todas as coisas aparecem amarelas aos olhos dos afetados por icterícia... A malícia do juízo temerário, dum modo semelhante a esta doença, faz aparecer tudo mau aos olhos dos que são por ela afetados... Se uma ação tivesse cem aspectos diferentes, deveríamos encará-la unicamente pelo lado melhor..." (Filotéia, III, 27).

Vejamos o lado positivo. Como bem explicou o Pe. Michel Beaumont, da Fraternidade São Pio X, falando sobre o elogio que o Papa atual fez do Missal de São Pio V e sobre as boas observações do Cardeal Ratzinger sobre a Liturgia: "Diante de um muro hostil, toda brecha é bem-vinda. Ela manifesta ao menos que o combate não é inútil. Uma andorinha acaba de atravessar o céu. Ela não é a primavera, ela não substitui a primavera da Igreja, que nós desejamos de todo o coração, e para a qual nós trabalhamos de nossa parte. Mas uma andorinha anuncia a primavera, ela pode pois dar força e coragem para esperá-la" (Pe. Michel Beaumont - Cfr. www.le-combat-catholique.com).

É nessa linha de pensamento que muito bem disse Dom Fellay: "Se houver uma oportunidade, uma só, de que os contatos com Roma possam fazer voltar um pouco mais de Tradição na Igreja, eu penso que nós devemos aproveitar a ocasião" (Dom Fellay, Fideliter, n. 140, p.7). Por isso o Pe. Pierre-Marie Laurençon, superior do Distrito da França, da Fraternidade São Pio X, contou como uma grande vitória para a Tradição o fato de os fiéis tradicionalistas terem conseguido a celebração da Missa de São Pio V, pela primeira vez em 20 anos, na Basílica (moderna) subterrânea de São Pio X, no Santuário de Lourdes, na peregrinação de 28 de outubro de 2001. "Foi talvez O milagre de Lourdes para o ano 2001! Nossos fiéis não poderão mais nos criticar de que nos contentamos com migalhas, deixando as autoridades de Lourdes nos confinar em uma sala periférica do santuário para as nossas cerimônias!... Não devemos interpretar esta bela vitória como um sinal de esperança para o retorno de Roma à sua Tradição? " (Carta aos amigos e benfeitores, Janeiro de 2002).

Essa é abertura de visão que tinha Dom Marcel Lefebvre, ao ver vantagem para a Igreja até nas "missas do indulto", as quais foram concedidas, segundo ele, sob inaceitáveis condições: "Mas esse primeiro gesto - rezemos para que haja outros dessa espécie - tira a suspeita indevidamente lançada sobre a missa e libera as consciências dos católicos perplexos que hesitavam ainda em assistir a ela" ( Dom Marcel Lefebvre - Carta aberta aos católicos perplexos, XX). Assim também Dom Bernard Fellay, em conferência em Campos em novembro de 2000, relatou aos nossos fiéis, com alegria, que a missa tradicional é celebrada em cerca de cem dioceses dos Estados Unidos. "Missas do Indulto", em sua grande maioria, promovidas por outros grupos tradicionais diferentes da Fraternidade São Pio X. Também Dom Lefebvre, em carta aos padres do Distrito da França, dizia: "Parece-me que devemos ir sobretudo aonde se nos chama e não dar a impressão de que temos uma jurisdição universal, nem uma jurisdição sobre um país ou uma região. Seria basear nosso apostolado sobre uma base falsa e ilusória. Por isso, igualmente, se outros sacerdotes satisfazem normalmente às necessidades dos fiéis, não temos por que nos imiscuirmos em seu apostolado, mas sim nos alegrarmos de que haja outros sacerdotes católicos que se levantam para salvar as almas" (27/4/1987). 23) Ah! Mas só um acordo prático não resolve.

O que era necessário é resolver a questão doutrinária. A isso responde o Pe. Philippe Laguérie, da Fraternidade São Pio X: "Eis minha conclusão - surpreendente, talvez: eu creio na possibilidade de um acordo prático e na inutilidade total das discussões doutrinais na hora presente...Perde-se o tempo - e talvez a própria alma - com essas discussões que não chegam nunca a uma conclusão, pelo motivo evidente de que elas não têm a menor problemática comum. Isso quer dizer que eu sou contra todo acordo? Não, pelo contrário. Se um acordo doutrinal só será possível dentro de 20 ou 30 anos, isso não é uma razão para renunciar ao acordo..." (DICI n. 8, 18/5/2001, pag.12).

A Fraternidade São Pio X pediu ao Cardeal de Paris uma Igreja para que os seus fiéis pudessem visitar para o jubileu do ano 2000. Cederam-lhes a Igreja de São Sulpício, na qual os fiéis rezaram, conduzidos pelos padres da Fraternidade, sendo recebidos pelo pároco local que lhes dirigiu palavras de acolhimento. Foi um acordo prático, frutuoso, sem ter sido tratada ou resolvida a questão doutrinária. Assim também a mesma Fraternidade São Pio X, por ocasião da Peregrinação a Roma pelo Jubileu do ano 2000, fez um acordo prático com o Vaticano, no sentido de que lhe fosse permitida a entrada nas basílicas.

O Vaticano cedeu-lhes a entrada nas Basílicas, o uso dos microfones pelos Bispos, mas não lhes permitiu a Missa.

Foi um acordo prático,não totalmente satisfatório pois não foi permitida a Santa Missa tradicional, mas que teve muitos frutos, mesmo sem ter sido resolvida a questão doutrinária. Mas, na verdade, foram graves razões doutrinárias que nos levaram a procurar e aceitar o reconhecimento, conforme explicamos nas respostas 2, 4 e 5. Outrossim, em carta oficial do Conselho da União Sacerdotal São João Maria Vianney, Dom Licínio e os Padres de Campos insistiram com Dom Fellay: "O que nos preocupa é o seguinte: Não se trata de uma simples atração pela regularização ou um simples acordo prático, mas está envolvido nisso uma grave questão doutrinária: a unidade de regime da Igreja (unitas regiminis), tão importante quanto à unidade de Fé. Porque, confirmando-se essa proposta da Santa Sé, ela passa a ser muito mais do que uma simples oferta ou proposta. Trata-se de uma vontade explícita do Papa, numa questão gravíssima que toca a unidade de regime da Igreja". "Trata-se ademais da sobrevivência da Tradição em Campos. Porquanto se recusamos um bispo nomeado pelo Papa como nos está sendo proposto, que motivos teremos para sagrar um bispo sem o mandato pontifício? Sabemos que a sagração contra a vontade do Papa só se justifica no caso gravíssimo de necessidade, quando é impossível se obter o mandato. Ora, o Papa estaria oferecendo esse bispo para Campos. Assim, os Padres de Campos, estamos convencidos de que uma nova sagração em Campos em tais circunstâncias, não se verificaria num estado de necessidade como foi a de Dom Licínio, e estaria se constituindo realmente em um cisma formal, com suas gravíssimas conseqüências". 23) Mas por que isso foi feito separadamente da Fraternidade São Pio X? Na reunião de 13 de janeiro de 2001, na Casa-Mãe da Fraternidade em Menzingen, sobre esse assunto do reconhecimento, um dos membros da Fraternidade, considerando as dificuldades que a Fraternidade São Pio X via na continuação das negociações com a Santa Sé, propôs que os padres de Campos fizessem o acordo primeiro, a título de experiência, e depois, dando certo, a Fraternidade o faria também. Portanto, a idéia de que Campos fizesse o acordo separadamente da Fraternidade veio da própria Fraternidade. E nós aceitamos servir de "testes" até, em benefício da Fraternidade. E assim escrevemos a Dom Fellay: " A nossa legalização seria um primeiro passo para o reconhecimento  futuro de toda a Tradição. Se Roma respeitar nossa posição doutrinária e nos apoiar em possíveis dificuldades com os bispos diocesanos, isso será um importante sinal de boa vontade (sinal verde) para toda a Tradição".

Dom Lefebvre, que assim escreveu a Dom Antônio de Castro Mayer sobre o problema de uma eventual sagração: " O caso da Fraternidade  Sacerdotal São Pio X se apresenta de modo diferente do caso da Diocese de Campos. Parece-me que o caso da Diocese de Campos é mais simples, mais clássico... É por isso que, a meu ver, não se deve ligar o caso de Campos à Fraternidade... Os casos devem ser bem separados. Isso não é sem importância para a opinião pública e para a Roma atual. A Fraternidade não deve ser envolvida e deixa toda a responsabilidade, legítima aliás, aos padres e aos fiéis de Campos... Eis minha opinião; eu penso que ela se apóia sobre as leis fundamentais do direito eclesiástico e sobre a Tradição...". 25) Mas disseram que os Senhores agiram escondidamente da Fraternidade! Isso é falso. O representante de Dom Licínio e dos padres de Campos, Pe. Fernando Arêas Rifan, esteve presente no mês de janeiro e no mês de abril na Casa generalícia da Fraternidade, na Suíça, expondo a posição de Campos sobre o assunto. Visitou várias vezes o Cardeal Castrillón sempre acompanhado por um padre da Fraternidade. Dom Licínio e os Padres, em 5 de junho de 2001, escreveram oficialmente a Dom Fellay apresentando-lhe 28 sérias razões sobre a necessidade do reconhecimento, alertando-o do perigo de se continuar nesse estado anormal de separação. Essa carta ficou sem resposta. Após a recusa da Fraternidade, a Santa Sé mandou-nos chamar a Roma. O conselho da União Sacerdotal, com Dom Licínio à frente, escreveu então mais uma vez, oficialmente, a Dom Fellay comunicando-lhe esse convite de Roma.

Essa carta não foi enviada pelo correio, mas sim, por segurança, conforme o pedido de Dom Licínio e dos padres, foi-lhe entregue pessoalmente pelo Pe. Fernando Arêas Rifan, que, antes de ir ao Vaticano, passou pela Fraternidade para lhes comunicar o convite da Santa Sé. Conforme instruções da própria Sagrada Congregação para o Clero, Dom Licínio e os Padres de Campos escreveram uma carta ao Papa pedindo o reconhecimento. Isso foi comunicado a Dom Fellay antes da carta ser entregue ao Papa. E cópia dessa carta foi entregue à Dom Fellay no mesmo dia em que foi entregue ao Papa. Porque apesar de a carta ter sido datada de 15 de agosto de 2001, ela só foi entregue Papa no dia 15 de setembro de 2001, mesmo dia em que a cópia foi entregue a Dom Fellay. E mais. Somente depois de duas conversas com Dom Fellay expondo-lhe o convite expresso da Santa Sé, as conversações com o Cardeal Castrillón tiveram oficialmente o seu prosseguimento, agora separadamente da Fraternidade. Não houve, portanto, nenhuma dissimulação da nossa parte nem agimos escondidamente da Fraternidade. Aliás, poderíamos até dizer que o contrário é que se deu. Em agosto de 2000, Dom Fellay, Dom Tissier e Dom Williamson jantaram, a convite, com o Cardeal Castrillón para tratar do assunto do reconhecimento da Fraternidade.

Em setembro de 2000, o Cardeal convida Dom Fellay para um colóquio e para preparar um encontro dele com o Papa. Em 30 de novembro de 2000, Dom Fellay visita Campos, faz uma palestra para os fiéis e para o clero da União Sacerdotal São João Maria Vianney, mas não nos fala sobre as conversações entre Roma e a Fraternidade São Pio X. E, na reunião com os padres, foi dito a ele que corria uma notícia de que a Santa Sé teria nomeado um bispo para tratar da reconciliação dos tradicionalistas. Ele respondeu que não sabia de nada. Pe. Fernando Rifan e Pe. Hélio Marcos, em conversa particular, falaram com Dom Fellay sobre a possibilidade de os padres de Campos fazerem um acordo com o Bispo Diocesano, no sentido de que este reconhecesse juridicamente a validade dos nossos sacramentos e os padres enviassem a ele as comunicações de casamentos e batizados. Dom Fellay concordou. Em 29 de dezembro de 2000, Dom Fellay teve uma audiência de quatro horas com o Cardeal Castrillón, sobre o reconhecimento. Em 30 de dezembro, houve uma audiência rápida de Dom Fellay com o Papa.

Até janeiro de 2001, as tratativas entre a Fraternidade e a Santa Sé foram feitas separadamente e sem o conhecimento de Dom Licínio Rangel e dos Padres de Campos. A pergunta é: quem agiu separada e ocultamente de quem?! 26) Mas o reconhecimento poderia ter sido feito junto com a Fraternidade! Sim. Mas não foi por nossa culpa que assim não tenha sido feito. E essa decisão de tratar diretamente com Roma não partiu de nós. Na verdade, nós, os padres de Campos e a Fraternidade São Pio X estávamos juntos nas conversações com Roma. Mas, desde o começo, notamos uma grande resistência da Fraternidade em prosseguir com as conversações.

 Nós insistimos muito com eles. Os padres de Campos, com Dom Licíno Rangel, após várias reuniões de discussão sobre o assunto, durante as quais expuseram à Fraternidade a sua opinião a favor do entendimento e do reconhecimento, escreveram oficialmente a Dom Fellay, insistindo que não suspendesse as conversações e que as levasse a bom termo. Infelizmente nossa carta não mereceu resposta, nossos pedidos pessoais não foram ouvidos e a Fraternidade recusou a oferta de Roma. Nessa altura, a Santa Sé enviou um representante a Campos a fim de nos convidar a prosseguir as conversações interrompidas pela Fraternidade, pois o nosso caso era mais simples e fácil, por se tratar de padres diocesanos, e contarmos com o apoio do Bispo diocesano e dos bispos vizinhos. Aliás, como já vimos, o próprio Dom Marcel Lefebvre era da opinião de que nós devíamos nos guiar pelos mesmos princípios, mas agindo cada um sob a sua própria responsabilidade. O Papa, pois, através do seu representante, nos chamava a Roma. Aí imitamos Dom Fellay e Dom Marcel Lefebvre: "Se o Papa me chama, eu vou, aliás eu corro. Isto é certo. Por obediência. Por filial respeito para com o chefe da Igreja" (Dom Bernard Fellay, superior geral da Fraternidade São Pio X, entrevista revista 30 dias, setembro de 2000). "Queremos permanecer aderidos a Roma, ao sucessor de Pedro... Por isso jamais rejeitei ir a Roma a seu chamado ou ao chamado de seus representantes" (Dom Marcel Lefebvre). "A preocupação com a nossa unidade e com a nossa preservação não nos deve fazer esquecer nossa obrigação de servir à Igreja" (Dom Fellay, Fideliter, n. 140. p. 7).

Por isso, o Pe. Paul Aulagnier, segundo assistente da Fraternidade São Pio X, participante conosco das reuniões da Casa Generalícia da Fraternidade em Menzingen sobre a aceitação do reconhecimento, escreveu a Dom Fellay: "O sr. reclamou que os padres de Campos agiram em separado. Mas de quem é a culpa. Não viu o sr. os esforços baldados do Pe. Fernando Rifan em tentar convencer-nos e presenciar a dura resistência de Dom Williamson e de Dom Tissier?!". 27) Mas Dom Fellay e os bispos da Fraternidade fizeram pressão sobre os padres de Campos para não aceitarem o reconhecimento? Realmente eles não concordaram em que nós aceitássemos o reconhecimento.

Nós lhes explicamos as nossas razões, insistimos que o nosso caso era diverso do da Fraternidade, conforme a opinião de Dom Marcel Lefebvre (confira resposta n. 15). Nós lhes dissemos que até compreendíamos a dificuldade de aceitar o reconhecimento por parte da Fraternidade, com seus 400 padres em 36 países. Mas pedimos que eles compreendessem a nossa posição. Ademais, acrescia no nosso caso o estado grave de saúde em que se encontrava o nosso Bispo Dom Licínio. Para nós a situação era urgente, o que não era o caso da Fraternidade. Dom Fellay respondeu que pela falta de Dom Licínio não haveria problema e que não era tão necessário para nós termos um bispo agora, pois os bispos da Fraternidade poderiam nos atender.

Essa resposta foi realmente um argumento a mais a favor da aceitação do reconhecimento, pois então não se configurava o estado de gravíssima necessidade, que só ele justificaria termos um bispo sagrado contra a vontade expressa do Papa. Portanto, era preciso urgentemente regularizar essa situação. Ademais, Dom Licínio Rangel, bispo de suplência para os católicos da Tradição no Brasil e superior da União Sacerdotal São João Maria Vianney, tinha a graça de estado, e só ele, para, conhecendo bem a situação aqui, com todas as suas circunstâncias, conhecidas só por ele e por seus padres, decidir sobre aceitar ou não o reconhecimento oferecido pela Santa Sé. 28) Mas não foi uma ingratidão dos senhores para com a Fraternidade, depois de tudo o que ela fez pelos senhores? As nossas dívidas de gratidão são mútuas e equivalentes. É claro que lhes devemos muito. Mas muito mais à Igreja. Mas quanto eles nos devem também?! Dom Antônio de Castro Mayer, por exemplo, deu seu apoio de bispo diocesano, que lhes era necessário na época, para que pudessem adquirir o terreno para a construção do Seminário de La Reja.

Quando Dom Lefebvre precisou encardinar padres em uma diocese, não podendo fazê-lo na Fraternidade, ele pediu a Dom Antônio que o fizesse em sua diocese, o que realmente foi feito. E assim vários padres da Fraternidade, inclusive Dom Tissier de Mallerais, foram encardinados na Diocese de Campos. Isso porque Dom Lefebvre, tendo espírito católico, se preocupava e procurava, na medida do possível, regularizar a situação dentro da oficialidade. E Dom Antônio se sacrificou e atravessou o oceano para apoiar Dom Lefebvre nas sagrações, com o risco de sofrer penas canônicas.

É verdade que os nossos seminaristas estudaram nos seminários da Fraternidade. Mas é bom lembrar que eles pagavam seus estudos lá. Isso sem contar os retiros, palestras e sermões que fizemos a pedido da Fraternidade, em diversas ocasiões, inclusive situações delicadas em que eles não queriam se expor e nos pediram que fizéssemos. 29) Mas essa briga com a Fraternidade não é ruim para a Tradição? É péssima. Por isso pedimos insistentemente a Dom Fellay que compreendessem a nossa situação diferente como nós compreendíamos a deles e que não brigassem conosco porque seria ruim para a Tradição. Infelizmente esse nosso pedido não foi ouvido. Mas da nossa parte não existe nenhuma briga. Pelo contrário, queremos a união em benefício de toda a causa da Tradição. E temos suportado silenciosa e pacientemente, na medida do possível, por amor à Igreja e às almas, todas as ofensas e até calúnias que têm feito contra nós, no mundo inteiro, em todas as revistas e pela Internet, publicando ostensivamente tudo o que se fala contra nós e tudo o que pode levantar suspeita sobre a conduta de Dom Licínio e dos padres de Campos e ocultando o que nos seria favorável.

Que a Fraternidade e outros grupos não concordassem com o nosso reconhecimento até poderia se explicar. Mas por que nos atacar sistematicamente, e tentar espalhar suspeita entre os nossos fiéis, para desacreditar Dom Licínio e os nossos padres? Parece até que hoje somos o grande inimigo na Igreja. Depois de anos de luta, conseguimos uma Administração Apostólica com direito à Missa Tradicional, Bispo próprio, seminário próprio, paróquias próprias, com independência, como uma diocese normal, com toda a orientação tradicional da Igreja de sempre. E somos tratados como traidores, como apóstatas?! Verdadeiramente esse não é um bom espírito católico. E nunca foi o espírito de Dom Marcel Lefebvre, como se pode ver pelas citações que temos feito. Isso tem dado a impressão de que para justificar a própria situação insustentável e injustificável, alguns procuram desmoralizar o que os outros puderam fazer de bom. 30) E qual é a posição atual dos senhores com relação à Fraternidade São Pio X? Dom Licíno Rangel, em entrevista a várias revistas internacionais, a essa pergunta assim tem respondido: "Queremos continuar sendo seus amigos.

E nós, agora regularizados canonicamente, oferecemos nossas orações e ajuda para que superem suas dificuldades peculiares e possam chegar a esse bem especial do reconhecimento dos direitos da Tradição que Roma nos concedeu. E assim, unidos e perfeitamente regularizados, servirmos à Tradição da Santa Igreja. E eu repetiria a eles o que já escrevi a Dom Fellay, juntamente com os padres da nossa União Sacerdotal, dando-lhe as razões para que continuasse as conversações com a Santa Sé em direção a um entendimento". 31) Mas não foi o Pe. Fernando Arêas Rifan, o porta-voz, que forçou Dom Licínio e os padres a aceitarem o reconhecimento? E isso não foi feito precipitadamente? Isso é uma grave ofensa a Dom Licínio e aos padres de Campos, como se fossem marionetes, sem convicção, e subservientes. Os nossos padres, além de formados em Filosofia, Teologia, Direito Canônico e História da Igreja, têm larga experiência pastoral, na oficialidade em uma diocese normal, no episcopado de Dom Antônio de Castro Mayer, e nos vinte anos de exílio, portanto, com condições únicas de analisar bem a situação.

Na verdade, o assunto foi largamente discutido com todos os padres, antigos e novos, em várias reuniões, durante cerca de um ano. As tratativas com a Santa Sé duraram de janeiro a dezembro de 2001. Os padres fizeram um retiro de cinco dias, refletiram bastante, discutiram, estudaram as propostas em conjunto e em particular, tiveram tempo de refletir e opinar, e chegaram à conclusão favorável ao entendimento com a Santa Sé e ao reconhecimento. Padre. Fernando foi apenas o porta-voz da opinião geral de Dom Licínio e dos padres. E durante a sua estada em Roma, Pe. Fernando telefonava quase diariamente para Dom Licínio e os padres, pondo-os ao corrente de cada tratativa, consultando-os, dando-lhes as notícias, e perguntando o que devia fazer. E quando o Pe. Fernando estava em Roma, durante as tratativas, Dom Fellay e Dom Galareta estiveram em Campos, e puderam ouvir da própria boca de Dom Licínio e dos padres a opinião favorável aos entendimentos com Roma. 32) Mas por que escolheram como data do Reconhecimento o início da Semana da Unidade dos Cristãos e a proximidade como o Encontro de Assis? Foi mera coincidência. A carta de aprovação do Papa, que foi o mais importante é de 25 de dezembro de 2001, Natal de Nosso Senhor, quando a notícia nos foi comunicada. Para a proclamação pública do reconhecimento, o Cardeal tinha várias datas, e nós escolhemos a de 18 de janeiro, que nos era mais conveniente.
Não houve intenção de coincidir com nada. E foi providencial, porque logo depois Dom Licínio piorou de saúde, e não poderia participar da cerimônia, se tardasse mais. 33) Por que a cerimônia do reconhecimento foi realizada na Catedral Diocesana de Campos? Porque foi escolhida pelo Cardeal, por ser mais conveniente, já que se tratava de um reconhecimento oficial, na Igreja oficial, dos assim chamados católicos da Tradição. E a proclamação deveria ser feita pelo representante do Papa, na presença do Núncio Apostólico, do bispo diocesano e dos bispos da região. E o Cardeal pediu que se fizesse também uma cerimônia em uma das nossas igrejas, o que realmente foi feito. 34) Os senhores reconheceram o Papa? Na nossa declaração pública, dissemos: "Reconhecemos o Santo Padre, o Papa João Paulo II, com todos os seus poderes e prerrogativas, prometendo-lhe nossa obediência filial e oferecendo a nossa oração por ele". Mas isso sempre reconhecemos.

Não houve nenhuma novidade nisso. Em todas as nossas sacristias, como é costume estabelecido em todas as igrejas, está exposto o quadro com os nomes do Papa João Paulo II e do bispo diocesano por ele nomeado. Nas nossas orações públicas sempre se rezou pelo Papa João Paulo II e pelo bispo diocesano. Nunca adotamos a posição sedevacantista nem jamais quisemos fazer uma diocese paralela, contestando a unidade de regime da Igreja. Mesmo quando, por necessidade, e de acordo com a Doutrina Católica, tivemos que resistir, isso jamais significou de nossa parte a contestação da autoridade papal ou o seu não reconhecimento. Ademais, sempre tivemos plena consciência da anormalidade, ocasionalidade e excepcionalidade da resistência, ansiando sempre por uma completa regularização e normalização. Sempre tivemos presente o dogma de Fé: "Declaramos, dizemos e definimos ser totalmente necessário à salvação que todos os homens se submetam ao Romano Pontífice" (Bonifácio VIII, Bula Unam Sanctam, Dz-Sh 875). Por isso, em nossa carta ao Papa, escrevemos: "Nas augustas mãos de Vossa Santidade, depomos a nossa Profissão de Fé Católica, professando perfeita comunhão com a Cátedra de Pedro, de quem Vossa Santidade é legítimo sucessor, reconhecendo o seu Primado e governo sobre a Igreja universal, pastores e fiéis, e declarando que, por nada desse mundo, queremos nos dissociar da Pedra, sobre a qual Jesus Cristo fundou a sua Igreja".

O mesmo texto da nossa profissão de fé católica de 1982, redigido sob a direção de Dom Antônio de Castro Mayer. É claro que a obediência filial que prometemos se rege pelas normas da doutrina católica e não se trata de subserviência. Aliás a nossa promessa está na mesma linha da promessa de Dom Marcel Lefebvre na sua declaração doutrinal de 4 de maio de 1988: "Nós prometemos ser sempre fiéis à Igreja Católica e ao Pontífice Romano, seu Pastor Supremo, Vigário de Cristo, Sucessor do Bem-aventurado Pedro no seu primado e Chefe do Corpo dos Bispos". 35) Os senhores aceitaram o Concílio Vaticano II? Em nossa declaração, assim nos expressamos: "Reconhecemos o Concílio Vaticano II como um dos Concílios Ecumênicos da Igreja Católica, aceitando-o à luz da Sagrada Tradição". Reconhecemos que o Concílio Vaticano II foi legítimamente convocado e presidido pelo Papa Beato João XXIII e continuado pelo Papa Paulo VI, com a participação de bispos de todo o mundo, inclusive de Dom Antônio de Castro Mayer e Dom Marcel Lefebvre, que assinaram as suas atas. Dom Antônio de Castro Mayer escreveu várias cartas pastorais sobre o Concílio, especialmente uma, em 1966, sobre a aplicação dos Documentos promulgados pelo Concílio. Surgiu, porém, o "pernicioso espírito do Concílio", que, segundo o Cardeal Ratzinger, "é o antiespírito, segundo o qual se deveria começar a história da Igreja a partir do Vaticano II, visto como uma espécie de ponto zero" (Card. Ratzinger, Rapporto sulla fede, cap.II).

Por isso, dissemos em nossa declaração: "Reconhecemos o Concílio Vaticano II como um dos Concílios Ecumênicos da Igreja Católica". A Igreja não pode se desligar do seu passado nem contradizê-lo. “

Fonte : Adapostolica

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